A elevada concentração de poder econômico e político são características da nossa República onde ainda reinaa apropriação privada da coisa pública e o clientelismo. As conquistas das mulheres se dão nos períodos de expansão democrática, com apoio dos setores avançados da sociedade e por pressão das próprias mulheres.Vivemos um momento crucial para subverter os valores estratificados e aprofundar o processo de desenvolvimento e ampliação da democracia. Mas, para democratizar a estrutura política brasileira, um dos elementos decisivos é a incorporação das mulheres nas instâncias de poder e decisão.
Mas
como encontrar uma perspectiva de poder? Como construir seu
empoderamento? Como ampliar o recrutamento feminino para uma maior
participação política?
Certamente,
uma série de políticas públicas são imprescindíveis para reafirmar a
autoestima da mulher, como a articulação de redes de apoio que
viabilizem e reforcem a participação feminina. Contudo, essencial nessa
estratégia é a construção e aprovação de uma reforma política sob a
ótica de gênero.
As
regrar atuais do nosso Sistema Político Eleitoral fazem com que as
mulheres, os trabalhadores, os jovens, os índios, os homossexuais, os
negros, sejam sempre subrepresentados. Não podemos considerar
democrático um sistema que permite que poucos segmentos sociais
minoritários concentrem enormes poderes, excluindo amplos setores
majoritários da sociedade.
Nós
mulheres, somos 51% da população e elegemos apenas cerca de 10% das
vagas na Câmara dos Deputados. A população indígena soma cerca de 400
mil e não tem nenhum represente no Congresso. Já os ruralistas que
representam apernas 40 mil brasileiros, possuem uma bancada de cerca de
100 parlamentares no Congresso. E o pano de fundo que reproduz a
subrepresentação e impede a expansão das mulheres nos espaços de poder
reside na manutenção do financiamento privado de campanhas e no modelode
eleição proporcional com lista aberta pós ordenada.
A
história recente confirma que setores mais avançados têm chegado ao
centro do poder conquistando governos e até conquistando maiorias
legislativas, mas sem coesão programática e muito menos ideológica. E
esta situação, obviamente,impõe obstáculos à aprovação de medidas
capazes de incidir na mudança da correlação de forças de poder.
Uma
reforma política ampla e democrática é fundamental no quadro geral de
acúmulo de forças e de avanços na luta estratégica para as
transformações.Por isso, o sistema atual implica em diversas
dificuldades de sobrevivência dos partidos de esquerda. Se de um lado
temos dificuldades pela correlação de forças no Congresso Nacional e
pelainfluência, inclusive midiática,de setores conservadores, por outro,
existe um ambiente favorável ao debate sintonizado com as mudanças.
Alguns
pontos do atual sistema são positivos e precisamos defender: o sistema
proporcional nas eleições de parlamentares, a ausência de cláusula de
barreira, as coligações proporcionais. No entanto, temos que acabar com o
financiamento privado de campanhas (que favorece o poder econômico); o
voto nominal nas eleições proporcionais (que favorece o individualismo, o
personalismo, a despolitização, o rebaixamento programático e o
enfraquecimento dos partidos); a forma de eleição dos suplentes de
senadores (que é uma distorção e afronta à democracia e à legitimidade);
acabar com a subrepresentação das mulheres, dos negros, índios e demais
minorias; combater a criação dos “distritões” (que representam um
verdadeiro golpe à democracia, intensificando ainda mais o predomínio do
poder econômico).
É
preciso construir um sistema político que beneficie os mecanismos de
participação. É imprescindível fortalecer os partidos e democratizar as
direções partidárias. Assegurar a pluralidade da representação com a
manutenção do voto proporcional,pois, é através dele que a mulher
consegue melhores condições de alcançar a representação. Diminuir a
força do poder econômico com o financiamento público de campanha é o
caminho para viabilizar recursos materiais às candidaturas femininas.
Reforçar os partidos através das listas préordenadas regulamentadas para
garantir a implementação das cotas (alternância de gênero) e a
participação democrática dos convencionais.
Nas
experiências onde foi instituído o voto em lista fechada, houve
significativo avanço na mudança da correlação de forças presentes nos
parlamentos, bem como, uma considerável diminuição da diferença entre
homens e mulheres nos espaços de poder. Na Argentina, por exemplo,
quando se instituiu o sistema de lista fechada com mulheres pelos menos
nas posições terceira, quinta e sétima, de 7% passou para 21% a presença
de mulheres já nas primeiras eleições,e hoje, a presença da mulher no
parlamento é superior a 40%.
Mulheres!
Não permitamos retrocessos nem contra-reformas. A emancipação das
mulheres é componente decisivo na democratização da estrutura política
do Estado brasileiro, portanto não pode ser vista apenas como direito,
mas sim como dever do estado e da sociedade.
Distribuído em Florianópolis,no Seminário “As Mulheres e a Reforma Política”, realizado em 04 de julho de 2011.
Fonte: Site Dep Angela Albino
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